Nilson
Borges da Rocha Júnior.
Oficina
teatral para professores da rede pública com jogos e exercícios do Teatro do
Oprimido.
Projeto de Oficina apresentado ao
PIBIC do curso de Licenciatura em Teatro, Universidade Federal da Bahia, sob
supervisão da Profa. Célida Salume.
Salvador
Universidade
Federal da Bahia
2015
“Se
por um lado, o código social é absolutamente necessário e indispensável (uma
sociedade sem qualquer forma de código social é impensável), não deixa de conter
um certo grau de autoritarismo. Quando um código social não responde às
necessidades e desejos das pessoas a quem a estrutura, se essas pessoas se veem
forçadas a fazer coisas que vão contra seus desejos, ou a abster-se de fazer
coisas que desejam fazer, podemos dizer que esse código se transformou em um
ritual. Um ritual é, portanto, um código que aprisiona, que constrange, que é
autoritário, inútil, ou, na pior das hipóteses, necessário como algum veículo
de alguma forma de opressão.” (BOAL, p 256)
APRESENTAÇÃO
Enquanto aluno graduando do 5º. semestre do curso
de Licenciatura em Teatro na UFBA, venho sendo orientado pela professora Célida
Salume no desenvolvimento de uma pesquisa como aluno/bolsista pelo PIBIC
(Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica que tem como
principais objetivos: despertar vocação científica e incentivar talentos
potenciais entre estudantes de graduação universitária, mediante participação
de um projeto de pesquisa, orientado por pesquisador qualificado, com vistas à
continuidade de sua formação, de modo particular na pós-graduação) sobre as
aproximações entre ‘as contribuições de
Augusto Boal: os jogos e a estética do oprimido’ e o uso de materialidades
no processo de criação. O projeto (PIBIC) aqui apresentado tem como objetivos: sistematizar
material didático sobre processos criativos e metodologias em teatro a partir
do foco do meu plano de trabalho: as
contribuições de Augusto Boal: os jogos e a estética do oprimido; estar
capacitado para desenvolver com autonomia oficina para professores,
estabelecendo relações entre o fazer teatral, a aprendizagem, produção de
subjetividade e a pedagogia do teatro.
É em busca de atingir esses objetivos que venho
propor uma oficina teatral para professores, na cidade de Tucano, com carga
horária total de 6 horas e tendo como base os jogos, exercícios e técnicas
propostos pelo encenador Augusto Boal que podem ser usados tanto por atores,
como por não-atores que tem vontade de dizer algo através do teatro.
JUSTIFICATIVA
Segundo
BOAL (2011):
“Toda sociedade tem seus rituais, e
consequentemente seus gestos rituais e signos. Esta técnica – o gesto ritual –
tenta descobri-los. É importante descobrir os rituais de cada sociedade, porque
eles são as expressões visuais das opressões, encontradas no seio de cada
sociedade. Sempre, sem exceção, uma opressão produzirá sinais visíveis, se
traduzirá em formas e movimentos, deixará traços. Desta maneira, é possível
descobrir e discutir opressões no discurso falado, assim como através das
técnicas da imagem.” (BOAL, 2011. p 254)
É pensando nesses rituais escolares
que mecanizam os corpos dos professores e alunos, que esta oficina é de
fundamental importância ao promover através também da ludicidade teatral
proposta por Boal, o reconhecimento destes mesmos rituais a fim de que o
professor possa desmecanizar-se, desoprimir-se também corporalmente e,
consequentemente, atinja um dos objetivos fundamentais da educação defendido
por Paulo Freire: ensinar exige a
corporeificação das palavras pelo exemplo. (FREIRE, 1998)
É
também através dos ‘joguexercícios’ e da técnica do teatro/imagem que poderemos
diagnosticar as relações de poder entre professor/aluno/escola, estimulando o
também reconhecimento destes professores enquanto oprimidos e opressores.
Quando oprimidos, estimulá-los a criarem soluções para a sua desopressão
através do joga imagem de transição.
Quando opressores, será impossível criar soluções para a desopressão uma vez
que só o oprimido (neste caso, o aluno ou outro indivíduo que faça parte da
instituição escolar) pode libertar-se. Porém, reconhecer-se opressor já é um
grande passo para se repensar o seu papel enquanto professor no universo
educacional.
OBJETIVOS
Sensibilizar-se para desenvolvimento do pensamento sensível;
Desmecanizar-se, conscientizar-se e
potencializar-se corporalmente para perceber-se enquanto um corpo autônomo e
expressivo na sociedade;
Apresentar a linguagem teatral através dos jogos;
Estimular os professores a reconhecerem as
possíveis relações de poder entre professor/aluno/escola;
Estimular os professores a reconhecerem seus
papéis (oprimido e de opressor) nessas relações de opressão;
Estimular os professores a criarem soluções para
essas relações de opressão quando reconhecidos como oprimidos.
CONTEÚDOS
Linguagem teatral;
Jogos e exercícios de BOAL;
Técnica do Teatro Imagem (Teatro do
Oprimido);
Relação de poder;
Diferenças entre liberdade e licenciosidade,
autoridade e autoritarismo.
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
Numa sala, com 20 professores da
rede pública e espaço vazio para a execução das seguintes etapas, divididas em
2 blocos com intervalo entre eles.
Bloco 1.
1ª. ETAPA.
Promover a sensibilização, a
conscientização corporal e sua desmecanização através de exercícios propostos
por Boal. Esta etapa conterá os seguintes exercícios descritos no anexo: deitado de costas, completamente relaxado;
inspiração lenta; respiração da vaca e do gato; em círculo; a menor superfície;
a cruz e o círculo; hipnotismo colombiano; sequência do espelho (espelho simples,
sujeito e imagem trocam os papéis, ambos são sujeito e imagem, todos se dão as
mãos); o escultor toca o modelo; a escultura com quatro ou cinco pessoas.
2ª. ETAPA.
Apresentação da linguagem teatral
(aqui, tendo como princípios básicos da improvisação teatral o
‘quem’/personagens, ‘o onde’/onde se passa a situação e o ‘o quê’/ o que está
acontecendo) através de jogos de imagem e espaciais para estimular os
participantes a criarem imagens que revelem possíveis relações de poder
(opressor x oprimido) e que estão descritos no anexo: completar a imagem; sem deixar nenhum espaço vazio na sala; inventando
o espaço na sala; as cadeiras no espaço vazio; as sete cadeiras; o jogo das
imagens do poder.
Bloco 2.
3ª. ETAPA.
Utilização da técnica do teatro
imagem com o jogo ‘imagem de transição’ para
estimular os participantes a levantarem situações de opressão ocorridas na
escola, reconhecendo seus papéis de oprimido e opressor a fim de praticar a
criação de possíveis soluções. Este jogo está descrito no anexo.
4ª. ETAPA.
Leitura do texto ‘Ensinar exige liberdade e autoridade’,
extraído do livro Pedagogia da autonomia,
de Paulo Freire.
CRONOGRAMA
INTERVENÇÕES
|
DESCRIÇÃO
|
TEMPO
|
1ª. Etapa
|
Jogos e exercícios de Boal
|
1 h
|
2ª. Etapa
|
Jogos de imagem e espaciais
|
1:30h
|
Intervalo
|
Lanche
|
20 min
|
3ª. Etapa
|
Técnica do eatro imagem
|
1:10 h
|
4ª. Etapa
|
Leitura do fragmento ‘ensinar
exige liberdade e autoridade’ de Paulo Freire
|
1h
|
Avaliação
|
Oralidade através de bate-papo
|
1h
|
RECURSOS
20 textos xerocados;
As cadeiras da sala;
Aparelho de som.
AVALIAÇÃO
A avaliação será feita com base numa
auto-avaliação e ocorrerá em círculo e no final da oficina, onde os participantes
serão estimulados a refletirem sobre a metodologia utilizada; sobre quais jogos
e exercícios eles podem estar aplicando em sala de aula com seus alunos e como;
sobre como eles perceberam seus corpos no início, meio e fim da oficina,
relatando dificuldades e facilidades.
ANEXO
Deitado
de costas, completamente relaxado.
O participante põe as mãos sobre o
abdômen, expele todo o ar dos pulmões e lentamente inspira, enchendo o abdômen
até não poder mais; expira em seguida; repete lentamente esses movimentos
diversas vezes. Faz o mesmo com as mãos sobre as costelas, enchendo o peito,
especialmente a parte de baixo, diversas vezes. Idem, com as mãos sobre os
ombros ou para cima, tentando encher a parte superior dos pulmões. Finalmente,
faz as três respirações em sequência, sempre pela ordem anterior.
Inspiração
lenta.
Inspirar lentamente pela narina
direita e expirar pela esquerda; depois inverter.
Respiração
da vaca e do gato.
De quatro, com os ombros na altura
das mãos e os joelhos apoiados ao chão. Inspirar enquanto leva a cabeça e o
quadril para cima, fazendo um arco com a coluna. Depois, expirar enquanto leva
a cabeça para baixo até olhar para o umbigo, fazendo um arco inverso com a
coluna.
Em
círculo.
Os participantes sentam-se em círculo,
um atrás do outro, cada um põe a mão sobre o ombro daquele que está à sua
frente, guardando certa distância. Com os olhos fechados, tentam descobrir os
pontos endurecidos do corpo do colega da frente; no pescoço, ao redor das
orelhas, na cabeça, nos ombros, na coluna vertebral – durante alguns minutos. O
professor determina que todos deem meia-volta, sempre com os olhos fechados,
até que todo o círculo tenha virado na direção contrária. Retoma-se a massagem
por alguns minutos. Depois, pede-se que cada um deite sobre a pessoa atrás, que
deve continuar sua massagem, desta vez na face, em volta dos olhos, nariz, etc.
A
menor superfície.
Cada participante estuda as posições
que permitam ao seu corpo tocar o menos possível o chão, usando de todas as
variações possíveis. Os pés e as mãos, um pé e uma mão sobre o rosto, a caixa
torácica, costas, nádegas. É necessário que, num momento ou noutro, toda a
superfície do corpo toque o chão. A passagem de uma posição a outra deve ser
feita muito lentamente, a fim de estimular todos os músculos que intervêm na
transição e permitir ao participante observar-se.
A
cruz e o círculo.
Como não há necessidade de
preparação, os participantes se entregam sem medo; e se forem prevenidos de que
é quase impossível realizá-lo bem, não terão receio de não consegui-lo, e se
sentirão livres para tentar. Pede-se que façam um círculo com a mão direita,
grande ou pequeno, como puderem. Pede-se, depois, que façam uma cruz com a mão
esquerda. Pede-se, então, que façam as duas coisas ao mesmo tempo. Quaisquer
figuras diferentes para cada mão também servirão, além do círculo e da cruz.
Hipnotismo
colombiano e suas variantes.
Um participante põe a mão a poucos
centímetros do rosto de outro; este, como hipnotizado, deve manter o rosto
sempre à mesma distância da mão do hipnotizador. O líder inicia uma série de
movimentos com as mãos, retos e circulares, para cima e para baixo, para os
lados, fazendo com que o companheiro execute com o corpo todas as estruturas
musculares possíveis, a fim de se equilibrar e manter a mesma distância entre o
rosto e a mão. A mão hipnotizadora pode mudar, para fazer, por exemplo, com que
o participante hipnotizado seja levado a passar por entre as pernas do
hipnotizador. As mãos não devem jamais fazer movimentos muito rápidos, que não
possam ser seguidos. O hipnotizador deve ajudar seu parceiro a assumir todas as
posições ridículas, grotescas, não usuais. Depois de uns minutos, trocam-se o
hipnotizador e o hipnotizado.
Variante
1.
Hipnose com as duas mãos. Mesmo exercício.
Desta vez, o participante/líder dirige dois de seus companheiros, um em cada
mão. O líder não deve parar o movimento nem de uma mão nem da outra. Esse
exercício é para ele também. Pode cruzar suas mãos, fazer um parceiro a passar
por debaixo do outro (sem se tocarem). Cada corpo deve procurar seu próprio
equilíbrio, sem se apoiar sobre o outro. Depois, troca-se de líder, de maneira
que os três participantes possam experimentar ser o hipnotizador.
Variante
2.
Hipnotismo com as mãos e com os pés.
Como os precedentes, mas com quatro participantes, um para cada pé e cada mão
do líder. Este pode fazer qualquer movimento, inclusive dançar, cruzar os
braços, dar voltas com o corpo pelo chão, saltar, etc., mas sempre em câmera
lenta. Os participantes que seguem os pés devem seguir somente o dedão.
Variante
3.
Com qualquer parte do corpo. Nesta
variante, um participante vai ao centro e começa a mexer com todo o seu corpo,
olhando sempre numa só direção; os outros fazem um círculo ao redor dele. Um
primeiro voluntário se aproxima e se deixa hipnotizar por uma parte do corpo do
líder (o participante no centro); em seguida, deve seguir todos os movimentos
dessa parte do corpo. Um segundo participante se aproxima e faz o mesmo,
podendo escolher qualquer parte do corpo de um ou de outro que já estejam na
cena. O terceiro escolhe uma parte do corpo daqueles que estão no meio, até que
todos os atores se deixem hipnotizar pelos corpos dos outros. Nesse momento, o
primeiro pode dar uma ou mais voltas com seu corpo, lentamente, porque seus
movimentos ficarão bastante magnificados quando repetidos pelo grupo, por causa
da sua distância em relação ao centro do círculo.
Sequência
do espelho.
Os exercícios podem ser feitos
isoladamente, e cada um tem sua função específica e sua aplicabilidade. Quando
feitos em sequências não interrompidas, porém, os participantes são estimulados
não apenas por cada exercício específico, mas também pela transição de um
exercício para outro; a transição é, em si mesma, um exercício, revelando-se, em
alguns casos, mais fecunda que os próprios exercícios entre os quais ela se
insere.
Espelho
simples.
Duas filas de participantes, cada um
olhando fixamente para a pessoa que está em frente, olho no olho. As pessoas da
fila A são designadas como sujeitos, e as da fila B como imagens. O exercício
começa e cada sujeito inicia uma série de movimentos e de expressões
fisionômicas, em câmera lenta, que devem ser reproduzidos nos mínimos detalhes
pela imagem que tem em frente.
O sujeito não deve considerar-se inimigo
da imagem: não se trata de uma competição, de fazer movimentos bruscos,
impossíveis de serem seguidos – trata-se, pelo contrário, de buscar a perfeita
sincronização de movimentos e a maior exatidão na reprodução dos gestos do
sujeito por parte da imagem. A exatidão e a sincronização devem ser de tal
ordem que um observador exterior não seja capaz de distinguir quem origina os movimentos
e quem os reproduz. É importante que os movimentos sejam lentos (para que
possam ser reproduzidos, e mesmo previstos pela imagem) e também contínuos. É
igualmente importante que se preste atenção aos mínimos detalhes, seja de todo
o corpo, seja da fisionomia.
Sujeito
e imagem trocam os papéis.
Depois de alguns minutos, o
professor anuncia que as duas filas mudarão de função. Em seguida, dá o sinal
para que mudem. Precisamente nesse instante, os participantes sujeitos
transformam-se em imagens, e estas naqueles. Isso deve ser feito sem quebra de
continuidade e com precisão. Quando se atinge a perfeição, o próprio movimento
que estava sendo realizado no instante da troca deve continuar e seguir um rumo
coerente, sem quebra, sem ruptura. Também aqui, o observador exterior não deve
ser capaz de perceber que houve uma troca; isso, na verdade, ocorre sempre que
a perfeição da reprodução e a sincronização gestual são totais.
Ambos
são sujeito e imagem.
Alguns minutos mais e o professor
anuncia que os participantes das duas filas serão simultaneamente imagem e
sujeito; alguns instantes depois, dá o sinal para que isso se produza. A partir
daí, os dois participantes, face a face, tem o direito de originar qualquer
movimento que desejem, e o dever de reproduzir os movimentos originados pelo
companheiro. Isso deve ser feito sem tirania de nenhum dos dois. É importante
que cada um se sinta livre para fazer os movimentos que lhe apetecerem e, ao
mesmo tempo, solidário para que os movimentos do companheiro sejam reproduzidos
com perfeição. Liberdade e solidariedade são indispensáveis para que se faça o
exercício sem tirania, sem opressão. Em toda esta sequência, ninguém deve fazer
movimentos impossíveis de serem reproduzidos. A velocidade não é importante – é
até contraproducente. Importantes são a sincronização e a perfeição da
reprodução.
Até esse momento, a comunicação é
exclusivamente visual, e a atenção de cada participante deve concentrar-se
apenas no companheiro em frente, sobretudo nos olhos e, em círculos
concêntricos, em todo o seu corpo. Os participantes não devem olhar pés e mãos:
olham nos olhos, mas o resto do corpo, assim como outros espaços, está
naturalmente incluído no seu campo visual.
Todos
se dão as mãos.
Uma vez mais, o diretor anuncia e em
seguida dá o sinal: todos os participantes se dão as mãos, à direita e à
esquerda – as duas filas, de mãos dadas, continuam frente a frente, cada um
olhando nos olhos do parceiro. Nesta etapa, porém, inclui-se um elemento novo:
se até aqui a comunicação era exclusivamente visual, agora ela é também
muscular – cada participante recebe estímulos visuais (do companheiro que está
em frente) e musculares (dos companheiros à direita e à esquerda). Não se devem
fazer movimentos que não possam ser seguidos pelo companheiro em frente, se os
que estão à direita e à esquerda dele o impedem muscularmente de realizar o
mesmo gesto ou movimento. Nesse caso, o participante que iniciou o movimento
impossível deve voltar atrás o mais rápido possível para que a sincronização
não se perca, e para que a reprodução seja a mais perfeita possível. Se os
movimentos foram lentos e contínuos, haverá sempre uma consulta visual e
muscular, a qual permitirá que as duas filas sejam sempre idênticas uma à
outra. Uma será sempre a imagem da outra, e, em cada uma delas, cada
participante terá sempre a liberdade de movimentos e a responsabilidade (agora
dentro dos limites musculares) de reproduzir os movimentos do companheiro em
frente.
O
escultor toca o modelo.
Duas filas, cada pessoa diante da
outra. Uma das filas é de escultores, e a outra de estátuas. Começa o exercício
e cada escultor trabalha com a estátua que deseja. Para isso, toca o corpo da
estátua, cuidando de produzir os efeitos que deseja nos seus mínimos detalhes.
Os escultores não podem usar a linguagem do espelho, isto é, não podem mostrar
no próprio corpo a imagem ou a figura que gostariam de ver reproduzida – aqui
não intervém o mimetismo, a reprodução -, pois esse não é o diálogo do espelho,
mas da modelagem. Portanto, é necessário tocar, modelar, e a cada gesto do
escultor corresponderá um gesto em consequência, a cada causa um efeito que não
é idêntico. Depois, trocam-se escultores e estátuas.
A
escultura com quatro ou cinco pessoas.
Os participantes dividem-se em
grupos de quatro ou cinco. Um escultor e os demais são modelos. Cada escultor
produz, com os corpos dos companheiros, uma imagem significativa. Como se
disesse: “É isto que eu penso”. Quando termina de visualizar sua opinião, toma
o lugar de um dos companheiros que sai e se transforma em escultor. E este
começa a trabalhar como se dissesse: “Isto é o que você pensa, e esta é minha
resposta”, e a partir da imagem recebida, modificando-a, modela a imagem que
simboliza seu pensamento, organiza os corpos dos companheiros num só modelo
múltiplo que tenha o significado que ele desja. Tudo isso é feito sem que o
escultor toque seus modelos; os movimentos são feitos à distância, vistos, mas
não sentidos, e são traduzidos pela sensibilidade de cada modelo, que age como
se estivesse sendo realmente tocado. O processo continua até que o último
participante tenha dado sua opinião.
Completar
a imagem.
Dois participantes cumprimentam-se,
apertando-se as mãos. Congela-se a imagem. Pede-se ao grupo que diga quais os
possíveis significados que a imagem pode ter. Várias possibilidades são
exploradas. Um dos dois sai, e o professor pergunta à plateia sobre significados
possíveis da imagem que resta, agora solitária. O professor convida o
participante que o desejar a entrar na imagem em uma outra posição – o primeiro
continua imóvel -, dando-lhe um outro significado. Depois, sai o primeiro
participante e um quarto entra na imagem, sempre saindo um, ficando o outro,
entrando o seguinte.
Depois desta demonstração, todos se
juntam em pares e começam com uma imagem de um aperto de mãos. Um parceiro se
retira da imagem, deixando o outro com sua mão estendida. Agora, em vez de
dizer o que pensa que esta nova imagem significa, o parceiro que saiu retorna e
completa a imagem; coloca-se numa posição diferente, com uma relação diferente
com o parceiro que está com a mão estendida, mudando o significado da imagem.
Então, o segundo parceiro sai desta nova imagem, observa e, depois, reentra na
imagem e a completa, mudando o significado outra vez. E assim por diante. O
professor pode adicionar um ou mais objetos ao jogo e os participantes podem
movê-los, desde que, com isso, a imagem do parceiro não seja deslocada.
Sem
deixar nenhum espaço vazio na sala.
Sem deixar espaço vazio na sala,
todos os participantes deverão caminhar com rapidez (sem correr), de maneira
que seus corpos estejam sempre mais ou menos equidistantes de todos os outros e
espalhados pela sala.
a) De tempos em tempos, o professor
dirá ‘pára!’ e todos deverão parar, procurando fazer com que não haja nenhum
espaço desocupado na superfície da sala. Não se pode parar antes do ‘pára!’. Se
alguém vê um espaço vazio, vai completá-lo com seu corpo; no entanto, como é
proibido parar, deve continuar andando, buscando outro espaço vazio e
esvaziando aquele onde está.
b) Em vez de dizer somente ‘pára!’, o
professor dirá também um número, e então todos deverão formar grupos segundo o
número anunciado: 3,5,8 pessoas etc. cada grupo deve estar equidistante dos
outros grupos, a fim de não permitir que haja espaços vazios na sala.
c) O professor cita um número e uma
parte do corpo. Se disser, por exemplo, 3 narizes ou 7 pés, então 3 narizes ou
7 pés deverão se tocar. Todo o espaço da sala deverá estar ocupado por grupos
que estejam equidistantes, como nos exercícios anteriores.
d) O professor menciona uma cor e uma
peça de vestuário; por exemplo, juntem-se pela cor das camisas, ou dos cabelos,
ou dos olhos... e os participantes assim o farão... assegurando-se de que os
grupos estejam igualmente distribuídos por toda a sala.
Inventando
o espaço na sala.
Usando seus corpos e/ou alguns
objetos, os participantes recriam um ambiente na sala: um barco, uma igreja, um
banco, um salão de baile, etc. O primeiro participante se coloca na posição em
que estaria se a sala fosse aquele barco, igreja, etc.
As
cadeiras no espaço vazio.
Um a um, cada participante pode
colocar uma cadeira na área designada, tentando obter o máximo poder dessa
posição. O segundo participante deverá levar em conta a cadeira do primeiro, e
todos os demais as dos anteriores. Depois de todas as cadeiras postas, na mesma
ordem, cada um tem o direito de mudar a sua; a seguir, cada um senta-se na sua
e pode mudar uma terceira vez.
As
sete cadeiras.
Cada participante com uma cadeira
com a qual deverá formar uma imagem que lhe atribua: a) o maior poder possível;
b) o menor poder possível. Após cada uma dessas imagens, o professor pedirá aos
demais participantes que digam frases que lhes pareçam ‘estar saindo’ da boca
da imagem, como os balões acima das personagens de quadrinhos. Depois, pedirá
ao próprio participante que está fazendo a imagem que fale sobre o pensamento
da imagem. Em vez de cadeira, pode-se utilizar outros objetos e sempre com o
mesmo objetivo de exprimir, com o próprio corpo e esses elementos, uma ideia,
sensação ou emoção.
O
jogo das imagens do poder.
No espaço, os participantes formam
algumas imagens de poder, de autoridade. Depois, um a um, colocam-se em relação
a essas imagens, sendo comentado o significado de cada uma: proximidade ou
distância, acima ou abaixo, relação com esta ou aquela.
Onde é o meu lugar? O professor
coloca no espaço uma série de objetos dispostos de forma a significarem maior
ou menor poder. Depois, faz 3 perguntas aos participantes, as respostas sendo
dadas pelos jogadores através da colocação dentro da cena em uma ou outra
posição (não-verbalmente). As 3 perguntas: a) qual o lugar em que você mais
gostaria de estar nesse espaço? b) qual o lugar em que você não gostaria de
estar de jeito nenhum? c)qual o lugar que você acredita ser o seu? Depois,
comenta-se quem escolheu o quê e por quê. Pode-se ainda sugerir que os
participantes – que podem se acumular em alguns lugares privilegiados – tenham
direito a uma modificação, indo para um outro lugar: o melhor lugar pode variar quando varia a posição dos companheiros.
Técnica
de imagem.
Imagem
da transição.
Esta técnica consiste em trabalhar
um modelo, produzindo uma discussão, apenas por meios visuais. Mais do que
nunca, é vital que as palavras sejam proibidas, mas não a discussão, que deve
ser tão rica e profunda quanto possível. Aqui, pode-se usar os corpos dos
outros, tantos quanto forem necessários.
O modelo.
O tema desse modelo deve ser uma
opressão, de qualquer tipo, sugerida pelo próprio grupo. Este é o modelo real.
Pede-se, depois, ao grupo, que construa um modelo ideal no qual a opressão
tenha sido eliminada e que todos, dentro desse modelo ideal, cheguem a um
equilíbrio plausível; uma situação que não seja opressiva para nenhum dos
personagens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à prática educativa.
Coleção Leitura. Rio de Janeiro – RJ. 1998.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Civilização Brasileira. Rio de
Janeiro – RJ. 2011.
BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Civilização
Brasileira. Rio de Janeiro – RJ. 2005.
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